quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Só há um tipo de violência?"

Ontem, Paulo Cesar Medeiros – o iluminador do espetáculo – foi ao ensaio e, ao fim do nosso primeiro passadão, falou sobre um dos temas que mais se fazem presentes na peça: a violência. E trouxe um dado que torna ainda mais rica a discussão. Os diferentes níveis e tipos de violência. Lucera diz em dado momento: “Existe um novo tipo de violência no ar”. É disso que Paulinho fala, sobre como pode ser cruel a falta de comunicação, por exemplo. Usou experiências pessoais como argumentos, mas a nossa peça traz exatamente essa questão como tema primordial. Além da violência concreta existente ao longo de todo o texto – exposta na forma bruta que os três irmãos (Ivan, Rainer e Roger) usam para se relacionar, para resolver problemas e até para amar – um dos motes da peça é a ignorância de Lucera sobre suas origens, informações que os irmãos dominam, mas não expõem. Ou explicam de forma tortuosa, suspeita. Por culpa? Por medo de perdê-la? Para se defenderem de um crime? Não se sabe ao certo, mas a forma como essa dúvida reverbera em Lucera denuncia o tamanho da violência que ela representa. É uma menina que nunca se enquadrou em seu núcleo familiar, não se sente protegida. Uma pessoa à margem, sem identidade, e todo esse vazio e as relações que derivam dele são ruminados de tal forma durante seu crescimento, que em algum momento esse tipo de criação vai ter que mostrar suas conseqüências. E muito provavelmente elas serão violentas, seja no nível que for. Criada em um ambiente em que tudo se resolve na força e no ataque, das duas uma: ou ela vai se rebelar contra suas referências (e, nesse caso, a rebeldia significaria a mansidão, a placidez), ou vai fazer jus à sua criação (que não deixa de ter amor, mas de um tipo muito peculiar) e responder a tudo isso com a maneira que aprendeu e pela qual foi amplamente estimulada. Particularmente, creio mais na segunda opção. Violência psicológica, violência física, violência moral. Em algum sentido, em algum momento e lugar, ela vai se manifestar.

Elisa Pinheiro (Lucera)

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