Roteiro para um curta-metragem. Quase um sonho.
Cena 1
EXTERIOR / NOITE
Um automóvel parado em frente a um prédio velho. Uma mulher sai. Close do pé da mulher, que veste uma bota de montaria. Vermelha. Apaga o cigarro com o pé. O automóvel sai. Aonde ele estava, sobra uma pilha de bosta de cavalo. Vemos o pé da mulher afastando-se da bosta e entrando no prédio.
Cena 2
INTERIOR / NOITE
A casa está repleta de pacotes, uma infinidade de pacotes embrulhados com jornais. Caixas da mudança. A pintura descascada, manchas de umidade. Alguns móveis velhos. Uma mesa de jantar improvisada sobre pilhas de livros, latas de tinta. As cadeiras são selas de montaria. A mulher entra, suspende a saia sensualmente, e monta na sela, à cabeceira da mesa. A mesa tem lugar para 6 pessoas. Pratos e talheres desiguais, descombinados. Da penumbra, surgem os outros convidados, que sentam-se à mesa. De um lado, Roger e Ivan. Do outro, Lucera e Bettina. Na cabeceira, Rainer. Então descobre-se que a mulher de bota vermelha sou eu.
O ar está pesado. todos acendem cigarros. Fumam. Os lábios sorvendo a fumaça. Os olhos duros, encarando-se. Sentem desejo uns pelos outros. Sentem ódio. São uma família onde ninguém confia em ninguém. O ódio real, intenso e profundo só é possível quando há muita intimidade, quando há muito amor. Quanto mais íntimos, mais intenso.
O jantar é finalmente servido. Foi Bettina quem cozinhou a iguaria: escorpiões. Está orgulhosa, vem da cozinha sorrindo um sorriso largo e débil. Seu sorriso me dá medo. Bota um prato fumegante à minha frente, mas não se pode ver o que é, apenas a fumaça da comida. De repente, um estalo de chicote. E revela-se a imagem do prato:
Ulrika (Letícia Isnard)
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