quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Jantar em família

Roteiro para um curta-metragem. Quase um sonho.

Cena 1
EXTERIOR / NOITE

Um automóvel parado em frente a um prédio velho. Uma mulher sai. Close do pé da mulher, que veste uma bota de montaria. Vermelha. Apaga o cigarro com o pé. O automóvel sai. Aonde ele estava, sobra uma pilha de bosta de cavalo. Vemos o pé da mulher afastando-se da bosta e entrando no prédio.

Cena 2
INTERIOR / NOITE

A casa está repleta de pacotes, uma infinidade de pacotes embrulhados com jornais. Caixas da mudança. A pintura descascada, manchas de umidade. Alguns móveis velhos. Uma mesa de jantar improvisada sobre pilhas de livros, latas de tinta. As cadeiras são selas de montaria. A mulher entra, suspende a saia sensualmente, e monta na sela, à cabeceira da mesa. A mesa tem lugar para 6 pessoas. Pratos e talheres desiguais, descombinados. Da penumbra, surgem os outros convidados, que sentam-se à mesa. De um lado, Roger e Ivan. Do outro, Lucera e Bettina. Na cabeceira, Rainer. Então descobre-se que a mulher de bota vermelha sou eu.

O ar está pesado. todos acendem cigarros. Fumam. Os lábios sorvendo a fumaça. Os olhos duros, encarando-se. Sentem desejo uns pelos outros. Sentem ódio. São uma família onde ninguém confia em ninguém. O ódio real, intenso e profundo só é possível quando há muita intimidade, quando há muito amor. Quanto mais íntimos, mais intenso. 

O jantar é finalmente servido. Foi Bettina quem cozinhou a iguaria: escorpiões. Está orgulhosa, vem da cozinha sorrindo um sorriso largo e débil. Seu sorriso me dá medo. Bota um prato fumegante à minha frente, mas não se pode ver o que é, apenas a fumaça da comida. De repente, um estalo de chicote. E revela-se a imagem do prato:


Ulrika (Letícia Isnard)

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