Mulheres Sonharam Cavalos: Uma mulher em um quarto

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Uma mulher em um quarto

RAINER
Ulrika está escrevendo roteiros pra cinema e eu acho que talvez ela pudesse ler algo pra nós:

LUCERA
É terrivelmente belo. Quisera eu poder escrever isso. Quem me dera eu pudesse me fechar pra escrever. Às vezes me angustio e sinto necessidade de me expressar. Então vomito.

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"Uma mulher em um quarto. Acabou de cometer um crime. Não se vê o crime. Temos que imaginar pelo seu olhar. Passamos pro exterior. O dia está ensolarado. Do lado de fora um desfile: Um grupo de jovens policiais montados sobre seus cavalos marrons. Suor nos cavalos, o couro aquecido das montarias, os dentes dos cavaleiros e dos cavalos trincados ao sol. A mulher sente desejo por eles, desejo de juntar-se a eles. O fato é que esses homens, profundamente assassinos e marcados pela violência que devem exercer tornam-se, para a mulher que está olhando pra eles, pessoas confiáveis e queridas."

Essa descrição dá início à peça Mulheres Sonharam Cavalos, do argentino Daniel Veronese. Três irmãos e suas esposas encontram-se para jantar. Esta cena cotidiana e familiar, microcosmo das relações sociais, torna-se aos poucos uma cena de extrema violência psicológica e física. A violência do fracasso afetivo do núcleo familiar e da própria sociedade, uma vez que um é espelho do outro.

A montagem dá continuidade à nossa pesquisa sobre a dramaturgia contemporânea argentina, iniciada com o espetáculo A Estupidez, de Rafael Spregelburd, encenado este ano no Rio de Janeiro. Spregelburd e Veronese são dois dos principais nomes de uma geração de autores que vem construindo um dos panoramas teatrais mais interessantes da atualidade.

Apesar de viver graves questões sociais, políticas e econômicas, a Argentina vive um momento muito fértil em termos da sua produção cultural, que, entre outros temas, procura refletir exatamente sobre os motivos e efeitos dessa crise. Vide por exemplo a sua recente cinematografia que vem sendo exibida e exaltada em todo o mundo. Nesse sentido, acreditamos que a interlocução cultural com os nossos hermanos pode ser bastante frutífera, além de urgente e necessária. Somos vizinhos continentais e vivemos problemas semelhantes aos deles, como um passado recente de ditadura militar.

A pesada herança da ditadura é um dos motes do texto Mulheres Sonharam Cavalos, o que é perfeitamente aplicável à realidade brasileira. Nossa montagem estréia em novembro no Teatro Poeirinha, no Rio de Janeiro. No elenco, Analu Prestes, Elisa Pinheiro, Isaac Bernat, José Karini, Letícia Isnard (que também assina a tradução) e Saulo Rodrigues, sob a direção de Ivan Sugahara. Neste espaço, você poderá acompanhar o processo de construção do espetáculo.

Ivan Sugahara e Letícia Isnard

FICHA TÉCNICA

Elenco Analu Prestes, Elisa Pinheiro, Isaac Bernat, José Karini, Letícia Isnard e Saulo Rodrigues
Texto Daniel Veronese
Tradução Letícia Isnard
Direção Ivan Sugahara
Assistência de Direção Gabriel Salabert
Preparação Corporal Paula Maracajá
Preparação Vocal Rose Gonçalves
Direção de Arte Flávio Graff
Iluminação Paulo César Medeiros
Trilha Sonora Ivan Sugahara
Programação Visual Luciano Cian
Fotografia Dalton Valério
Assessoria de Imprensa Daniella Cavalcanti
Direção de Produção Tárik Puggina
Produção Executiva Aline Carrocino
Assistência de Produção Juliana Prandini
Administração Financeira Carla de Torrez
Coordenação de Produção Nevaxca Produções
Realização Ivan Sugahara, Letícia Isnard e Tárik Puggina