Sua dramaturgia não pode ser associada à idéia de uma obra definida por um estilo único, pois explora diferentes formas do texto visitando zonas de linguagens muito diversas. Isso não o conduziu, no entanto, a uma heterogeneidade autoral, mas sim a uma flexibilidade que se vincula principalmente com o febril exercício criativo do Veronese diretor.
Muitas das peças de Veronese experimentam uma zona que põem em crise a própria noção de representação de tal forma que se pode identificar traços de um teatro quase performativo onde o jogo entre representação e apresentação, e entre ator e personagem constitui elemento chave da cena. Temos, então, a escrita de um autor-diretor, que põe em cheque a fala teatral e faz desse exercício um dos elementos fundamentais de sua poética. Para ele, um dos fantasmas centrais é a própria idéia de representação. Se os títeres representam um evidente elemento sinistro e assustador – que norteou o teatro do Periférico – nas peças do autor o ato da representação e a condição do duplo, experimentada pelos atores, estabelece um terreno de estranhamento que será campo para a experiência junto ao público. Fazer visíveis as regras do teatral, e tomar a teatralidade como tema, ainda quando o eixo temático das peças não explicite esse objetivo, é uma das características desse teatro que insiste em pensar o evento teatral como experiência compartilhada ao redor das faltas.
Mulheres foi escrita, como afirma o autor, pensando nos períodos mais duros da ditadura quando desapareceu tanta gente, mas não se deve ler o texto a partir desse momento histórico porque a situação pode ser transportada a outros contextos. Isso permite que o público possa reconhecer em aspectos desta família os que lhe são comuns, que pertencem ao nosso cotidiano e por isso mesmo são como visitas aos fantasmas.
Mulheres Sonharam Cavalos é um título que no deixa uma sensação de algo incompleto. Há ali um elemento inacabado. Algo a ser construído ou impossível de ser determinado.
Trechos selecionados do artigo de CARREIRA, André. “Daniel Veronese: um teatro da falta”. Revista OLHARES / Dramaturgia latino-americana.
Letícia Isnard
Letícia Isnard
Nenhum comentário:
Postar um comentário