segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Está chegando a hora...

A peça de Daniel Veronese impressiona pela força que ele consegue extrair de uma situação dramática simples. Um almoço de três irmãos e suas esposas na residência de um dos casais para resolver o encerramento de um negócio familiar. A dramaturgia começa a se desenvolver de modo quase tolo. Mas eis que ressentimentos, histórias mal contadas, desconfianças, segredos obscuros, desejos reprimidos começam a vir à tona. Em um primeiro momento, de modo ainda civilizado, com os personagens tentando manter um ambiente sociável. Contudo, o acúmulo destas vilezas acaba por gerar uma força que arruína qualquer possibilidade de convivência saudável.

Provavelmente a palavra que melhor define o texto é violência. A violência a princípio psicológica que, inevitavelmente, descamba para o físico. A violência do fracasso afetivo do núcleo familiar e da própria sociedade, uma vez que um é espelho do outro. Nesse sentido, podemos dizer que a obra de Veronese é extremamente política, ao colocar nesse microcosmo a representação das forças sociais, precárias por si só e ainda em confronto. No entanto, tudo é retratado com certo humor, um humor corrosivo e irônico que nos move a não apenas lamentar, mas a rir de nós mesmos, da nossa própria precariedade, e talvez tirar desse riso crítico, porém não distanciado, um anseio de mudança.

A partir de semana que vem, “Mulheres Sonharam Cavalos” passa a ocupar o Teatro Poeirinha de sexta a domingo. Estamos aquecendo os cavalos para a estréia:



Ivan Sugahara


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