terça-feira, 27 de setembro de 2011

ROGER

Com a chegada do nosso irmão caçula, virei uma espécie de tio-irmão. Roger sempre gostou de ser mimado por todos nós. Sabia que era o centro das atenções e se aproveitava disso. Mesmo já crescido, se mantinha um pouco infantil nas atitudes. Era bem mais novo e acho que, até um certo ponto de nossas vidas, me admirava e tinha respeito por mim. Nas brigas e nas brincadeiras, nos uníamos contra Ivan. Juntos, podíamos dar conta dele. E era bem divertido deixar o irmão mais velho irritado.

Nessa época, eu tava flertando com o boxe e cheguei a fazer algumas aulas. Roger ma acompanhava e ficava fascinado. Eu larguei quando percebi que não levava nenhum jeito pra coisa. Já ele, a partir daí, descobriu o que queria fazer da vida. Começou e não parou mais. Foi fundo no negócio. E o engraçado é que, depois que ele começou a treinar, começamos também a nos distanciar. Fui perdendo o parceiro. Roger crescia e nossa relação desabava. Nos desentendíamos pelas coisas mais triviais e as brigas eram feias. Claro que eu brigava muito mais com as palavras. Já não dava pra encará-lo na mão. E a coisa pegava mesmo quando entrava mulher no meio. Ele sempre levava a melhor, pelo menos no primeiro momento. E eu só conseguia alguma coisa depois de muita conversa. Mas enfim...era o caçula, o nosso mascote.

Só que eu tenho que confessar uma coisa: a verdade é que a chegada dele sempre me incomodou um pouco. Acho que desde sempre. De certa forma, eu perdi meu lugar. Ciúmes? Pode ser. Mas quem não ficaria incomodado? O cara nasce tarde, tira o seu lugar, ganha todas as atenções e, quando cresce, ainda rouba as mulheres. Não é nada divertido!

Mas tudo bem. Acho que uma das minhas virtudes é saber agir na hora certa e jogar bem o jogo da vida. Esse joguinho babaca. Eu sei esperar. Ter assumido o negócio da família, por exemplo, me deu algum poder. Ivan e Roger não entendem nada de negócios e ficam, obviamente, na minha mão. E eu acho que chegou a hora de tentar coisas maiores. Pra isso, o negócio familiar precisaria falir...

RAINER (José Karini)

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