segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Início da quarta semana de ensaios

Quarta semana de ensaios começando, tudo ainda por ser descoberto. Pouco já se sabe, de quase nada se tem certeza, muito se intui, se discute e se especula. A alegria de um processo novo de trabalho anima a chegada a cada dia. O “olá, boa tarde, como foi o final de semana” é motivado pela satisfação no encontro com esses novos colegas que tanto vêm me estimulando nas últimas três semanas. Ivan Sugahara, Letícia Isnard, José Karini, Analu Prestes, Saulo Rodrigues, Isaac Bernat, Gabriel Salabert, Paula Maracajá. Quase todos, novidades pra mim. E, naturalmente, eu pra eles. E é muito reconfortante perceber que as trocas existem, que a conversa flui, que nos exercícios corporais temos entendimento e fluência. Que, provavelmente, o processo vai ser muito rico e tranqüilo quanto às relações pessoais. É claro que os gênios são diferentes, assim como os anseios, as percepções e o nível de envolvimento com o projeto. Mas as perspectivas são animadoras, e, num ambiente novo, isso é fundamental pra se ter calma e segurança num processo de tanta intimidade e exposição como é o de preparação de um espetáculo.
Ivan tem proposto uma prática diferente das que tenho experimentado nos últimos anos. Há muito tempo trabalhando com Moacir Chaves (cujo direcionamento privilegia a oralidade, o entendimento do texto, a busca pelas melhores maneiras de dizê-lo), e fazendo substituições (em montagens como Ensina-me a Viver, de João Falcão, e Mente Mentira, de Paulo de Moraes, de cujos processos de criação não participei), é estimulante esse reencontro com um método com o qual já havia perdido a intimidade há tempos. A construção dos personagens, que vai desde a pesquisa por sua forma de falar, de andar, de se relacionar, até a compreensão (e às vezes suposição) de suas características psicológicas e das motivações para suas atitudes são exercícios absolutamente enriquecedores para determinados resultados. Se a eles se somar uma preparação corporal que busca caminhos alternativos aos que nos vêm a princípio como possibilidades de ação, a conseqüência, muito provavelmente, será uma cena farta de significados, complexa como o texto se apresenta. Ivan e Paula tem unido esforços nesse sentido, com propostas como a pesquisa de movimentos equinos e partituras de ações baseadas nas características aferidas de cada personagem.
Um dos princípios dos jogos de improviso é evitar a negação à ideia do outro, para que a cena possa fluir. O mesmo tenho percebido nos processos de ensaios. A cada novo trabalho, tem se tornado mais sólida minha convicção na importância de não resistir ao método de cada diretor. E não resistir não é não questionar. É depositar confiança. Experimentar, estar aberto, trocar. É estar vivo, presente, com a segurança de que atores e diretor estão reunidos na sala de ensaio por um objetivo comum. De outro modo, ficamos engarrafados, numa guerra infrutífera que não é vantajosa pra ninguém. Esse princípio positivo em direção ao outro é fundamental para que se possa cada vez mais adquirir ferramentas, abrir possibilidades, se perder, se achar, quebrar a cara e construir algo novo, único, que só aquela determinada combinação de pessoas, de desejos, de frustrações e de encontros é capaz de construir.

Lucera a cada dia se mostra um pouco mais pra mim. E Ivan tem me proporcionado isso, me ajudando a perceber nela raciocínios, trejeitos e posicionamentos a que eu jamais teria acesso sozinha. Nisso também tem me ajudado a Paula e todos os colegas de cena. Porque a minha Lucera vai ser a mistura de tudo isso. Um pouco de cada um. E só assim é que é bom.

Elisa Pinheiro

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