sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ivan

Meu irmãozinho mais velho. Gosto dele. Ou, pelo menos, gostava. Era, um pouco, o modelo a ser seguido, já que temos que estar inventando modelos o tempo inteiro. E eu acreditava nisso, achava que o mundo era um pouco assim...bastava seguir um bom modelo. E o Ivan tava ali, a mão. Na minha cabeça, ele era o cara. Brigava bem, era mais ou menos inteligente, fazia sucesso com as garotas e ainda tinha alguma grana. Não precisava mais nada. Pra mim, era papai em primeiro e Ivan em segundo. O mundo era um lugar seguro. E os problemas seriam resolvidos logicamente. Tudo era matemática. Os números iriam colocar as coisas nos seus lugares certos e a gente só precisaria seguir a lógica deles. Nada de erro. Nada de acaso. Nada de sofrimento. Aliás, a ideia de acaso ainda não existia na minha cabeça. Eu ainda não havia percebido que o mundo não está nem aí pra nossa pobre lógica de pequenos lugarzinhos comuns. Ele tá cagando pra ela! Não tá nem aí!

Então, eu também cago pra ele! Também não to nem aí pro mundo! Quero mais é que se foda! E aí, a ideia de herói passa a ser patética. Completamente absurda e fora de propósito. E o meu irmãozinho mais velho também. Ele, agora, me parece completamente fora de propósito...fora de foco...me dá pena. Mas ainda é meu irmão. Isso não pode ser desfeito. Mas eu também não quero desfazer. Porque a ideia de família ainda me dá alguma ilusão. E eu quero essa ilusão, eu preciso dela, mesmo sabendo que ela não será nada além disso...apenas uma boa ilusão. Mas o engraçado é que eu consigo me iludir de verdade...eu acredito. Então eu quero o meu irmão...eu gosto de estar com ele...mesmo que seja só pra constatar que ele não faz mais sentido nenhum...mas, pelo menos, eu tenho um irmão...tenho irmãos...e isso não é tão ruim.

Rainer (José Karini)

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